terça-feira, 12 de junho de 2012

DO OUTRO LADO DE MIM

DO OUTRO LADO DE MIM

traço o meu perfil sobre o papel rasurado
que me emprestam no café sem devolução
e é assim como sou que me é dado
este privilégio de resumir a criação.

reparo como se de fora estivesse
no retrato que sou sentado à mesa,
sorvendo o café como que houvesse
nessa vontade uma magna certeza.

olho-me de longe e não me pareço igual.
bebo água em seguida e penso
que o que sou que vejo é natural
… maturado preconceito dando à dor o
pseudo-senso.

repenso-me do outro lado.
olho-me e estranho-me ao notar
que sou quem olha despreocupado
o lado oposto de quem sou pr’a me olhar!

o papel rasurado como a alma golpeada
é a força do que creio ter ganho
pela ferocidade do olhar/espada
que me mata como se não suicida um
estranho

manhas, manias, taras de quem olha
e julga ter a certeza de ser no porquê,
o mesmo homem que do outro lado desfolha
as páginas da alma de quem o vê.
José Carlos Villar
In VERSUS
n. n. n.
1999


versos de quem olha
mas vê...
realizo-me neste meu sacrificio:
poetar o meio circundante
e tentar perpetuar a alma gigante das palavras,
das pessoas
do Sonho...
quando tudo parece tombar...
... mas não páro de sonhar:



sonhar...
... não paga imposto...