quinta-feira, 28 de junho de 2012

NOCTURNO

NOCTURNO


em horas tardias a insónia atrai

as minhas visões que entrego ao fim

das glórias vãs em que fui sonhador

(a tudo o que me entrego se esvai)

o sono requer uma calma que vai

do mesmo pesadelo ao mutuo amor


não sei se quimera ou diversão

ando num turbilhão de sensações

como que a galope numa fuga veloz

(bate descompassado meu coração)

renasço a cada nova ilusão...

... e findo no silêncio da minha voz


José Carlos Sousa Villar



...
dois mil e 12
2ª casa da nascente nr. 14

quarta-feira, 27 de junho de 2012

IMPROVISO (ao gosto popular)

IMPROVISO
p/ Bela d’Além:

tenho presente
um amor que encontrei
sente a vida diferente
como quando a namorei

estas coisas do amor,
são terrenos movediços
têm a candura do pudor
e são aprendizes seus feitiços

ando na vida a rasurar
a memória que esqueci.
só te quero namorar
desde o dia em que te vi

naufrago no teu olhar
cúmplice deste ver diferente
tive o mundo para palpar
e agora teu corpo quente

não desejo mais que isto
apenas o louvor da redenção
que nos dá Jesus Cristo
por  tão estranha relação

não temo a inveja
que alimentam por nós
será ciúme de igreja
onde estamos a sós…

… num vaivém de fé
incluído no amor
valendo pelo que é
com todo seu louvor

agradeço à saudade
o mistério do presente
amar-te-ei até à eternidade;
profano dum desejo ardente

vou de novo ao baú
vasculhar todo o passado
e sentir que és mesmo tu
quem o faz tornar-se apagado

pois nem as águas movem
os moinhos por onde passam
há deuses que não dormem
e leitos por onde façam,

a benesse deste amor
oh amor bendito!
-estou melhor sim senhor
por ter fé no que medito

José Carlos Sousa Villar
dois mil e 12


escrevo notas de rodapé
para explicar o que sinto
quanto mais haja Fé
mais acredito no distinto
sabor das palavras
onde me entrego desalmado
por tão bafejado
dom que tenho negado
quando...
.... estou a teu lado!



terça-feira, 19 de junho de 2012

SOBRE MULHER

S./T. SOBRE MULHER

miragem, pensei, quando ousei olhar
teu corpo doirado e vestido de nudez
oásis, vi, quando o pressenti tocar
sem que mo negasses mesmo co’a timidez

do teu vagar, um afago a mergulhar
com teus dois dedos teu sexo ao fundo
e eu, deliciado, vendo-te masturbar
com desejo, o que deu origem ao humano mundo

pressenti que das entranhas saía a voz
que solicitava o meu desejo aprendiz
e foi daí que ambos, apenas sós
fomos um sendo nós, e eu fui como tu feliz

teu seio cabia-me na palma da mão
que entretanto tateava os contornos
desse teu corpo rendido à satisfação
realizada e autêntica, acabada em beijos mornos

disse-te adeus quando saí de ti
e fui com a esperança de te reencontrar
porém nunca em todo o futuro te vi
assim, como eras continuo a recordar.
José Carlos Sousa Villar


«TÃO MULHER»
(desejo)
sensualidade
fêmea
(carne)
... a carne de Ser...-se
INTEIRA
«Mulher tem que ter qualquer coisa para além da beleza»
...

MATINAL

MATINAL

Acordamos. Quase despertos dum sono cronometrado, sentenciamos
o sonho que deveria sossegar as nossas fantasias videnciando
o dia. Este que se aproxima comum, vizinho da gula e enteado da dor. É
assim que se mascaram as horas dos tempos calmos num leito morno.
Apetece-nos, subitamente, rememorar em silêncio, esse passado
longínquo onde se refugiam os fantasmas que fazem do perigo um
medo presente.
Olhamos em redor e não vemos senão o espectro dilacerado
de quem fomos. O passado é quase sempre um cadáver que tentamos
sepultar. Um espírito que regressa pleno no turbilhão exausto dos dias
repetentes.
Mas, já é hora de despertar. Ocupa-se o silêncio com o ruído
irritante que nos invade, plo despertador, como metralhadoras assassinando
a paciência. Oh, e o pêndulo seguro, constante, sereno, a aconselhar-
nos equilíbrio e sobriedade!...
Pausa, ainda, para lembrar a noite passada. O frenesim da
alcoolemia roendo, como sentença, a carne que há-de cessar. Por isso
se bebeu!? - antecipar o fim com o prazer no sabor do regresso à lucidez
que nos culpa. Afinal, morremo-nos a cada instante... O aviso de que o
tempo é uma mera invenção do Homem e, que nada tem medida ou
peso suficientes para acompanhar o resumo, a síntese da existência.
Percebemos que a paz é só um limite a transpor para a plenitude.
Essa quieta sedutora que nunca chega. Género noiva atrasada,
arrependida da intenção. Somos mais ou menos assim: cobaias do acaso!
Tetricamente, chega enluarado o nocturno sossego e é circular
o nosso percurso.
Sonhar!... Sonhar num dia igual, as vésperas do futuro que,
são um tempero dado à vontade de ultrapassar a monotonia dos dias.
Essa clausura com a máscara que parece ter-se colocado à face.
Aconteceu... mais um dia igual... mascarado. Igual.
José Carlos Sousa Villar

(intimidade)

SONHO
ESPERANÇA
VIDA
SEGREDOS
AMOR

...

«Tenho neste momento tantos pensamentos fundamentais,
tantas coisas verdadeiramente metafísicas que dizer, que me canso de repente, e decido não escrever mais, não pensar mais, mas deixar que a febre de dizer me dê sono, e eu faça festas com os olhos fechados, como a um gato, a tudo quanto poderia ter dito.»

Bernardo Soares

SERENIDADE

SERENIDADE...


«A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte.
O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas. Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade.»

Herman Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'



                          « O AMANHÃ É DOS LOUCOS DE HOJE »

domingo, 17 de junho de 2012

ATÉ ONDE CHEGA O LONGE

... ATÉ ONDE CHEGA O LONGE...
chegara o tempo de admitir a sorte que me condenou
ao sofrível escrúpulo do ter de ser mais do que muitos. aqui, onde
escrevo, a minha glória consiste no desarranjar o fundamento com que
o resto dos homens enfeitaram o sistema. assim, exagero o limite e, ao
transpor o círculo, sou-me tentado ao vício das palavras - com um quarto
fechado e míseros restos de agonia fantasiada é isto, apenas, o que me
resta.
chegou mesmo no limite, esse tempo de que vos conto,
a infâmia de jurar, secreto e ocioso pelos inconcretos lugares da
memória… a que vasculho, reabrindo as gavetas e esgravatando o seu
púdico testemunho. assimilo e contenho o grito, ao notar-me entre
dano e desesperança. encontro uns manuscritos quase ininteligíveis.
agora sinto que a minha missão é a de decifrar o seu conteúdo. alcanço
os papéis; acerco-me da cadeira de baloiço e, ponho-me a pensar…
existe num silêncio visceral uma luminosidade intensa que me arrebata
e tende a resolver-me na véspera do sono.
pressinto, tardio chilrear de pássaros de fogo
penetrando arcos em espinhos.
volta aquele silêncio a pretender emprenhar a pátria
desta língua que uso, descarado e másculo. como sei que sofro as
diferenças dos tentados versos com os versos tentadores, respondo
mudo. essa situação jamais ficará por resolver!
em que parágrafo se defenderia melhor a máscara
resgatada ao fogo de alba? em que palavra se sentiria com maior eficácia
a quietude irresponsável a arrastar-nos para o desassossego manso?
sim. são estas por outras vizinhas questões que me afligem a noite e
sentenciam o sono.
pego nos papéis e volto ao ofício. sôfrego de
entendimento, pergunto-me ainda: que farei eu?
mas é forte o apelo que me solicita a vontade. irei
saber do que se trata. não ficarei por aqui.
que importa? vou fugir por aí, sem destino, a esconder
me com os papéis todos que não sei bem de que tratam. vou…
vem do longe um respiro que quero, por isso o invento.
vem como lâmina. eu tenho tudo sem destino para cumprir a missão!
irei assorrear as estrelas por aí fora e soletrar essas
palavras desses papéis. talvez até os solte ao vento e, perdidos,
assumam esse que, porventura, será o seu melhor destino: o de
voarem!!
regresso. venho com os papéis todos escondidos num
saco furtado a um desses quaisquer vadios que deambulam sonâmbulos
e bêbados (é incrível como bebem sendo pedintes de esmola) até
caírem num beco sujo para pernoitarem no segredo da primavera. e
estou cansado da viagem. também eu cairei. também tombarei, só que
com o peso desses - estes segredos todos. serei, talvez, também um
vadio? oh, mas minha esmola tarda em chegar! tenho-me, agora,
recolhido em posição de feto nesta cama suja pelo saco desse vadio
que, por estes momentos já terá um saco diferente, furtado quiçá a um
outro viandante noctívago.
começo a ter medo. sentir o pavor da máscara que não
consigo tirar, apesar de repetidas tentativas do novo que quero dar-me
para, enfim, adormecer.
repito-me na consciente afirmação de sujeito
convertido à missão dizendo o de sempre… o de sempre que tento
renovar a cada instante, quando, a galope, me surge a vontade
estonteada e fria mas lúcida. nunca consigo. pode ser que num dia
como este, esse repente de imaginatividade me surja sugerido pelos
tempos de exercício deste mesmo tempo das palavras medrosas e
temperadas.
tentarei ainda hoje conseguir contabilizar o longe. não
sei como nem com quê o conseguir, mas irá haver a chave, a fórmula,
e tem que ter o preço impresso custando o esforço que emprego nisto
e noutros enfins afins. haverá?
José Carlos Villar


NÃO DESISTO
O PIOR MEDO É TER MEDO DO MEDO
(cresci)


terça-feira, 12 de junho de 2012

DO OUTRO LADO DE MIM

DO OUTRO LADO DE MIM

traço o meu perfil sobre o papel rasurado
que me emprestam no café sem devolução
e é assim como sou que me é dado
este privilégio de resumir a criação.

reparo como se de fora estivesse
no retrato que sou sentado à mesa,
sorvendo o café como que houvesse
nessa vontade uma magna certeza.

olho-me de longe e não me pareço igual.
bebo água em seguida e penso
que o que sou que vejo é natural
… maturado preconceito dando à dor o
pseudo-senso.

repenso-me do outro lado.
olho-me e estranho-me ao notar
que sou quem olha despreocupado
o lado oposto de quem sou pr’a me olhar!

o papel rasurado como a alma golpeada
é a força do que creio ter ganho
pela ferocidade do olhar/espada
que me mata como se não suicida um
estranho

manhas, manias, taras de quem olha
e julga ter a certeza de ser no porquê,
o mesmo homem que do outro lado desfolha
as páginas da alma de quem o vê.
José Carlos Villar
In VERSUS
n. n. n.
1999


versos de quem olha
mas vê...
realizo-me neste meu sacrificio:
poetar o meio circundante
e tentar perpetuar a alma gigante das palavras,
das pessoas
do Sonho...
quando tudo parece tombar...
... mas não páro de sonhar:



sonhar...
... não paga imposto...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O NOSSO SORRISO

O NOSSO SORRISO

p/ um amigo:


porque choro eu se me pedem um sorriso?

para que escondo eu, envergonhado, o meu sorriso?

digo a um amigo: sorri!

e quando eu puder mergulhar no teu sorriso

serei mais contente...

serei uma alma ardente

e morrerei para que ressuscites...

o amor é banal... está em todo o lado...

faz parte das coisas, das almas, dos verbos...

secreto entro na tua cabeça

e sinto que me sorris!

graças a Deus tenho o meu sorriso no cérebro de um amigo!

sabes?

sou eu. eu que viajante rebusco os vocábulos

incompletos, rasurados, rasgados, filtrados

para perpetuar o meu desejo na vontade contida de gargalhar contigo.

tenho saudade dos meus amigos...

choro como quem ri...

rio que se asfixia pelas margens que o sustentam...

naúfrago desaguo no teu sorriso...

descubro que há barcos para pernoitar..

e circulos de fogo para viajar...

gosto que gostem de mim...

eu até gosto de mim...!!!

só que escondo o sorriso... o nosso sorriso!

desnudo-me para viajar no arfar completo de um sorriso...

sei o teu dialeto...

e se te escrevo - eu que odeio ser poeta - é porque gosto de ti!

vou de rosto em rosto para arrancar um sorriso...

isso faz-me feliz!

... mas nas noites tenebrosas sonhando pesadelos

fico tonto e não sei por onde andar...

prefiro ver-te sorrir... e recordar que há desfios

onde escancaras o desejo...

sou teu amigo, sorrriso que nasce no meu amigo...

vou recolher todas as lágrimas que meus olhos cansados derramam

e sorrir para ti como se fosse o ultimo suspiro de alegria...

depois deixas-me morrer?

é que adoro ressuscitar!!!

obrigado... brinca a sério com os movimentos dos sentidos

que te realizam e me fazem anular

os meus caprichos de sonhador...

... sim. sei que és todo o seu amor...

J. C. Villar

junho _ 2012




BEM HAJAS

um abraço